Empresa de Ônibus Guarulhos
Por Douglas Nascimento — 29/07/2014
* DOUGLAS NASCIMENTO tem um site interessantissimo, faço aqui transcriçao na integra de uma das materias que ele tem no site :http://www.saopauloantiga.com.br/ vale a pena acessar, tem materias sensacionais.
De todos os tipos de transportes coletivos que temos em operação o mais comum é o ônibus. Ele está presente em cidades de todos os tamanhos não só por todo o Estado de São Paulo mas também por todo o Brasil. Se os ônibus agradam por ter linhas que muitas vezes param na rua da casa que moramos, por outro reclamamos que muitas vezes os ônibus estão sujos, atrasados ou ultrapassados. E em Guarulhos, que já teve trem no passado mas que por trapalhadas políticas hoje não tem mais, o ônibus não é opção, mas é o único meio de transporte coletivo. E ao falar de ônibus em Guarulhos não dá pra não lembrar de uma empresa que marcou os guarulhenses: A Empresa de Ônibus Guarulhos.
Mas antes de falar da empresa e como ela surgiu, precisamos voltar algumas décadas no tempo e saber dos primórdios do transporte coletivo na segunda maior cidade paulista. E para ilustrar essa história, vejam a foto abaixo, que mostra a rua Dom Pedro II, no centro de Guarulhos, em meados da década de 20:
Hoje com tantos acessos e com três rodovias cortando a cidade fronteiriça a São Paulo, em certos trechos é até difícil dizer onde começa Guarulhos e onde é a capital, mas no passado era tudo muito diferente. Voltando para as duas primeiras décadas do século 20, você tinha três maneiras de chegar ou sair de Guarulhos:
- De trem, pelo Tramway da Cantareira, que, por dar a volta pela zona norte paulistana, era consideravelmente lento.
- De carro, o que no início do século 20 era algo para poucos privilegiados
- De ônibus até a Penha e de lá para o centro de São Paulo, que costumávamos chamar de “Cidade”.
E se você optasse pela terceira opção, iria pegar um dos ônibus da empresa que fazia o itinerário Guarulhos-Penha, que saia da região central da cidade e pegava a Avenida Guarulhos para chegar até o bairro paulistano. Abaixo dois ônibus desta viação pioneira em foto enviada por Gustavo Neme Feola, neto do fundador da então viação de Manzano & Abrahão. A seta indica um dos fundadores da empresa, Chafic Abrahão Neme.
Esta empresa seguiu por décadas fazendo o transporte de passageiros entre Penha e Guarulhos até a década de 40. A título de curiosidade, em 1930 a passagem de ônibus entre Guarulhos e a Penha custava 600 Réis. Entre a década de 30 e 40 as informações sobre a história das empresas de ônibus em Guarulhos não são muito claras. Porém, é no pós-guerra que o serviço de ônibus dará um grande salto nesta cidade.
É no ano de 1946 que a empresa que fazia o trajeto Guarulhos – Penha é vendida para um grupo de empresários. A então denominada “Empresa de Ônibus Guarulhos Ltda” é comprada pelos irmãos José, Orlando, Nelson, Renato e Rubens Nascimento dos Santos, juntamente com Fioravante Iervolino. Nascia assim a Empresa de Ônibus Guarulhos S/A. Tão logo a empresa chegou aos novos donos, um novo e longo período de crescimento foi conhecido. A empresa começou a explorar novas linhas e a frota, de 9 ônibus em 1946, aumentou consideravelmente. E com isso uma nova garagem para abrigar os ônibus foi necessária. E ela era bem próximo ao leito do Tramway da Cantareira, não muito distante da Estação Guarulhos. A foto a seguir mostra a garagem em 1968.
Localizada na Avenida Guarulhos, a garagem da empresa logo tornou-se um atrativo para o desenvolvimento na região. Estabelecimentos comerciais se firmaram rapidamente ao redor da garagem e também outras empresas. Não muito longe dali haviam duas companhias importantíssimas para os guarulhenses, como a Microlite, que produzia na cidade as pilhas Rayovac e a Carbonell Fiação e Tecelagem. A fotografia área abaixo, feita no início da década de 70, mostra a garagem e as empresas da região:
E abaixo, mais duas fotografias da garagem no ano de 1968:
A Empresa de Ônibus Guarulhos seguiu crescendo em linhas, número de veículos e passageiros, mesmo com o tempo enfrentando a concorrência de novas empresas a explorar o serviço em Guarulhos, como a Viação Gato Preto entre outras. Em 1950 começou a operar um novo itinerário, que por muitos anos foi a linha símbolo da empresa: Guarulhos – Praça Clóvis Bevilacqua. Com isso, 14 anos após sua criação, já então no ano de 1960, a E.O. Guarulhos já tinha um total de 7 linhas diferentes e uma frota numerosa. Neste mesmo ano Fioravante Iervolino negociou sua parte na empresa com Paschoal Thomeu, que foi empresário e prefeito de Guarulhos. Em 1968 a empresa atingiria 15 linhas, sendo 10 municipais e 5 intermunicipais transportando neste ano 94 mil passageiros por dia. E foi neste mesmo ano que a empresa fez uma grande reformulação da frota, com veículos Mercedes-Bens (os modelos das três fotos coloridas anteriores).
Em 1991 a empresa tem um mudança nos acionistas e o controle acionário passou para o Grupo Jacob Barata, que administra empresas de ônibus em diversos municípios brasileiros, entre eles, principalmente, o Rio de Janeiro. Atualmente a empresa ainda faz parte deste mesmo grupo acionário, agora denominado Grupo Guanabara. A então E.O Guarulhos agora chama-se Guarulhos Transportes, e a garagem que antes era na Avenida Guarulhos foi mudada para a Rua Deputado Ulisses Guimarães, no bairro guarulhense do Taboão.Abaixo, veja uma galeria de fotos com alguns dos ônibus da E.O Guarulhos que marcaram época entre os anos 70 e 80 (clique para ampliar):
A VELHA GARAGEM ATUALMENTE:
Esqueça a foto de 1968 lá do início do artigo com a bela fachada da garagem pintada predominantemente de amarelo e com detalhes em verde, cores da bandeira nacional e por muitos e muitos anos a cor da frota da empresa. O que outrora foi uma das mais belas garagens da Grande São Paulo hoje é, de longe, um dos prédios mais horrorosos da cidade de Guarulhos. Desde que a viação saiu dali o prédio entrou em lenta decadência até se transformar na feiúra que é hoje. Quem observa e não conhece bem o local até pensa se tratar de um prédio abandonado, mas ele não é. Apesar de colecionar vidros quebrados em quase todas janelas, pichações e um aspecto de total decadência o local serve como depósito e garagem de caminhões.
Este situação mostra duas coisas: Primeiro a total inação da Prefeitura de Guarulhos, que é muito rápida em cobrar impostos mais altos que a média dos municípios vizinhos, mas é incapaz de exigir que um imóvel como este tenha uma fachada, no mínimo, limpa. Por mais que o imóvel seja privado, é preciso ter bom senso das autoridades e exigir que um imóvel que funciona regularmente tenha uma apresentação, no mínimo, decente. Segundo o quanto não ligamos para a nossa memória. O que hoje é ruína, um dia foi parte integrante do cotidiano guarulhense e está sendo ignorado. Enquanto estive no local batendo fotos conversei com algumas pessoas e nenhuma soube dizer que no passado ali foi uma garagem de ônibus. Nem todo mundo dá atenção para a história dos ônibus. Entretanto há por ai uma grande comunidade de busólogos (e eu me incluo) que se preocupa em catalogar, fotografar e documentar linhas antigas, ônibus antigos e velhas garagens. Pelo menos sabemos que estas histórias não desaparecerão. FONTES CONSULTADAS: Gustavo Feola (Familiar de Chafic Abrahão Neme) Revista Mercedes-Benz – Ano 2, Número 21 – 1968 Diário Oficial de Guarulhos (vários anos e edições) Diário do Comércio – Edição de 03/06/2004 Jornal Olho Vivo – Edição de 08/12/2006
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