Trabalhava em uma empresa de São Paulo quando a mesma criou uma filial na cidade do Rio de Janeiro.
Fui escalado durante um mês para participar das reuniões e treinamentos do Departamento de Vendas na filial Rio.
Todas as quartas-feiras eu embarcava em Congonhas no saudoso Eletra II da VARIG com destino ao Santos Dumont. O escritório ficava na Rua Uruguaiana quase esquina com a Theophilo Otoni por volta das 9 horas já estava lá. Trabalhava o restante da quarta-feira e quinta feira ate às 17 horas quando saia direto para o Aeroporto e embarcava de volta para São Paulo.
A empresa ocupava um andar inteiro com muitos funcionários. Um deles um negro de nome Adailton. Muito falante e simpático sempre fazia alguma piadinha comigo principalmente sobre futebol, ele era muito engraçado e simpático. Falante como todo carioca numa certa quinta-feira quando descíamos no mesmo elevador ele falou que tinha visitado São Paulo no domingo anterior. Veio a São Paulo para assistir uma partida de futebol entre o Botafogo e Portuguesa.
Ele contou que naquele domingo chegou à rodoviária do Tiete as 6 da manhã e como havia dormido boa parte da viagem resolveu conhecer a cidade. Pegou o metro na estação Tiete em direção a estação Sé onde desceria e passearia pela Praça da Sé, Viaduto do Chá, Teatro Municipal e outros pontos da capital paulista.
Mas acabou passando da estação Sé e desceu na seguinte, ou seja, estação da Liberdade. Bem na Feira Oriental que tem lá todo domingo.
Levou um susto danado.
Disse assustado mesmo uma semana depois.
- Paulista, pensei que tinha pegado o metro errado e ido parar no Japão.
- O que e aquilo meu irmão era muito japonês. Como tem japonês em São Paulo.
Percebi que aquilo tinha mesmo mexido com ele. Acostumado aos moradores do Rio e vendo um ou outro turista com olhos puxados ele jamais imaginou que em uma cidade do Brasil encontraria tanto “japonês”.
O elevador chegou ao térreo e nos despedimos ele indo embora pra Madureira e eu voltando para São Paulo.
Peguei meu vôo as 18h00min e às 19h30min já estavam em casa, morava próximo ao Aeroporto de Congonhas.
Quando foi lá pelas 21 horas fui dar uma volta pelo bairro e entrei na banca de jornal do meu amigo Tito que fica dentro de um supermercado da região.
Conversavamos sobre tudo principalmente sobre o meu trabalho no Rio de Janeiro. Enquanto desfolhávamos umas revistas e continuávamos nossa prosa percebi que um conhecido nosso de origem japonesa observava nossa conversa e aproximando-se de nos comentou.
- Estive passando férias no Rio de Janeiro agora em Março, eu e minha mulher.
- Puxa vida como tem preto no Rio. A gente não tá acostumado a ver tanta gente negra assim.
E eu simplesmente não acreditei que num espaço de tempo entre 17 horas e 21 horas do mesmo dia eu ouvi o mesmo comentário de espanto de duas pessoas que não tinham a mínima idéia da existência uma da outra.
Talvez isso explique muitas vezes tantos atos de intolerância.
O desconhecimento do outro.
A falta de educação em respeitar a diferença alheia e o que cria confrontos entre povos e pessoas.
ejomes@2011_04
Nenhum comentário:
Postar um comentário