terça-feira, 23 de outubro de 2007

BOMBEIRO POR UM DIA

Em 1998 fui a serviço de uma empresa a sede do Corpo de Bombeiros da cidade de São Paulo, na praça Clovis Bevilac. Lá existe uma loja que vende suvenir da corporação são toalhas, bonés, broches e camisas com o distintivo da corporação fundada em São Paulo em 1880. Comprei então uma camisa pólo vermelha com este distintivo. Entre usar a camisa vermelha da Ferrari prefiro usar a do Corpo de Bombeiros. Guardei a camisa no armário e ate esqueci dela durante um bom tempo.
Ate que num sábado pela manhã já atrasado para uma reunião com pessoal do escritório percebi que não tinha nenhuma camisa passada e a única que estava disponível era a camisa vermelha.
Não perdendo tempo vesti a camisa compondo o visual com uma calça jeans e tênis.
Peguei o metro fui ate o centro, participei da reunião e na volta lá pelas duas da tarde entrei no metro na estação São Bento. O trem estava cheio e fiquei próximo a primeira porta do carro. Tudo corria bem. Íamos passando pelas estações em direção ao Jabaquara ate que na Estação Sta Cruz aconteceu. Na ultima porta do carro em que eu estava entrou um homem, alto, forte, trazia nos braços uma criança, toda enfaixada. Os dois braços uma perna e tinha uma atadura na cabeça. As portas do trem mal fecham para seguir viagem e este cidadão vem em minha direção, já com cara de chorão começa a falar.
- Deus abençoe vocês do Corpo de Bombeiros, foi um bombeiro que salvou meu filho.
A esta altura eu que tinha passado todo tempo praticamente despercebido passei a ser observado de maneira fixa por todas as pessoas presentes.
O homem então continuou.
- Estes bravos bombeiros, que são capazes de morrer para salvar uma vida merecem uma salva de palmas de todos nos.
Neste instante todas as pessoas começaram a aplaudir o suposto bombeiro, que era eu. Este cidadão já ao meu lado me abraça fortemente chorando e continuava com seu discurso.
- Você e um herói meu amigo, seus amigos bombeiros assim como você tem um lugar cativo no céu. Nunca vou esquecer de vocês. Muito obrigado.
A esta altura o trem era um tumulto só, pessoas se levantando dos bancos e vindo em minha direção me cumprimentando e eu ali sem saber o que fazer. Imaginem se digo aquele povo todo que não era um bombeiro. Que frustração seria para eles. Logo imaginei, que como não havia dito nada não poderia ser acusado de falsidade. Eram as pessoas que diziam que eu era um bombeiro. Eram jovens, crianças, velhos, gente de todo tipo falando comigo. Uma velhinha disse:
-Alguém tem uma câmera? Quero tirar uma foto com ele.
Graças a Deus ninguém tinha uma câmera. Logo o trem chega ao Jabaquara. Eu apavorado. Imaginem aparecer um bombeiro de verdade ou um Policial Militar, era cana na certa. Sai em disparada dali já ouvindo comentários do tipo.
- Será que este cara e mesmo bombeiro?
Nunca mais vesti a gloriosa camisa do Corpo de Bombeiros, esta guardada num lugar de honra dentro do armário.



Evaristo J Mesquita/Ejomes2005

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